Total de visualizações de página

terça-feira, 29 de junho de 2010

Capítulo 2 – Nem seu nome eu sabia.

Eu transpirava e ofegava um pouco quando despertei. Tentava interpretar o sonho que tive. Mas nada era patente para que eu pudesse entender, e por isso, o julguei apenas como uma das conseqüências ruins da saudade que já sentia e a reconstrução da minha vida que teria que ser feita na grande Toronto.

Fui aos tropeços até o banheiro e lavei o meu rosto para amenizar a sensação arrepiante de pós-pesadelo indecifrável.

O reflexo que se via no meu espelho era de uma garota jovem, com cabelos curtos e muito negros assemelhando-se com os olhos. Viam-se olheiras e um aspecto amurado em sua face. E, no entanto, ainda era bonita, bela, encantadora. Suspirei e cessei a admiração egocêntrica de hoje. Vesti-me com uma camiseta branca, sem estampas, uma calça jeans, já desbotada e um tênis qualquer. Minha vaidade não era muito acentuada.

Eu iria a pé até a escola, os mimos e a gasolina do meu pai eram finitos.

No outro passeio, um rapaz interessante se dirigia à escola também. Cabelos lisos e de uma cor com tom de mel escuro e vívido, de altura mediana, poucos músculos e um jeito torto de andar, desesperadamente indolente. Ele atravessou a rua, pondo-se ao meu lado. E sem hesitar, puxou conversa:
-Você é nova aqui, não é? – E abriu um sorriso após as palavras saírem num tom amigável e descompromissado.

Não havia falado individualmente com ninguém da escola no dia anterior porque ninguém fez o favor de falar comigo, talvez estivessem com receio de que eu não responderia e estavam certos. Pode ser um ato volúvel, mas ele era encantador e eu não podia ignorar todos para sempre, muito menos ele.

-Sim, infelizmente. – Apenas assenti.
-Logo você se acostuma. Percebi que não era daqui por sua beleza. – Era estranho, falava comigo e agora me cantava sem demonstrar nenhum sinal de nervosismo. – Garotas bonitas naquela escola, são raras exceções – disse-me convicto.
Petulante, pensei comigo mesma.

-Está me cantando? – Rebati.
-Não. Estou te elogiando. – E arfou – Ei, onde você está indo? Vai matar aula? - Ele quase gritou, parecia desesperado para que eu continuasse ao seu lado.
Não tinha percebido que andei mais do que o esperado. O portão da escola ficara dois passos atrás. Fui tão fraca ao ponto de permitir que em poucos minutos um cara que eu nem sequer seu nome sabia, me afetasse tanto. Absurdo.
-Não, e mesmo se fosse, é da sua conta? - Estava tão intrigada pela hesitação que eu tinha ao falar com ele, que minha voz e minhas palavras saíram mais rudez do que o de costume. Ele não me respondeu, e ultrajado talvez, com o tom de minha voz, desviou o olhar pela primeira vez, dirigindo-se iracundo para a escola.

Nem seu nome, nem a maneira como conseguiu me encantar, nem sua idade, nem seus gostos, nem se era boa pessoa ou má, eu sabia. Entretanto, havia uma certeza evidente, não precisaria de mais nenhuma informação, algumas palavras trocadas e eu já me sentia magoada ao o ver partir.

Um comentário:

  1. Oi, Carol,

    Uhh.continuo lendo a postagem com interesse, e no fim da leitura, curiosa, esperando pelo proximo capitulo.

    Vc está indo bem. E a descrição do cenario, continua muito bom. Não desista.

    Catarina

    Bjs.

    ResponderExcluir