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quinta-feira, 1 de julho de 2010

Capítulo 3 - Como um cego que foi curado.

Nunca fui romântica. Exageros em pieguice me enojavam. Sempre suplicava ao Rick que me desse amor e não me dissesse amor, se é que consegue compreender. Gostava da parte física, do contato, as palavras e todo o jogo de sedução que alguns casais usam exasperadamente ficavam em segundo plano. E rejeitava fielmente a qualquer suposição de amor à primeira vista.


Permaneci absorta durante as três primeiras aulas pensando em como sentia falta de braços em minha volta. De calor humano, de companhia. E aquele garoto seria a solução para minha abstinência, era decidido, bonito, atrevido. Ocuparia a vaga deixada pelo Rick. E eu o queria, muito, exageradamente e talvez, não como eu queria os outros. Era diferente, mais urgente.

Eu cedi a algumas tentativas de socialização de algumas meninas. Conversando sobre meu passado, de onde eu vinha, essas baboseiras todas. Passei o intervalo tentando, sem sucesso, me interagir com Emily, uma garota loira, de cabelos longos, que usava óculos e era a experiência viva para contrariar que as loiras são burras, pelo contrário, regozijava aos professores com sua capacidade mental. Esforcei-me, tentando ser o menos obtusa possível.

Não o vi mais naquele dia. Pediria desculpas, e o seduziria na próxima vez. Usaria todos os meus artifícios femininos atraentes, e não ficaria irresoluta como antes.

A aula terminou no horário normal, na hora do almoço. Segui para casa sozinha, sem ninguém afetando meus calmos instintos.

Comia. Quando não havia nada em minha boca, me impedindo de falar e fosse educado, eu conversava e ria com meu pai.
-John, respire um pouco – eu disse de bom humor. – Vai engordar hein! Não temos mais dinheiro para gastar com suas banhas.
-Sim senhora, nada de gastar dinheiro com banhas. E, plásticas, será que eu posso? - E soltou uma gargalhada contagiante. Se retirando da mesa após isso. Eu imaginava que minha mãe tiraria a máscara séria e riria com a gente. Estava enganada. Ela permaneceu em silêncio, parecendo lidar contra prantos que eu era incapaz de saber quais eram.

Acho que ela foi perspicaz o bastante para perceber que eu a observava. Subiu para o seu quarto. Sua testa enrugada e a ausência de sua voz, de seu sorriso coagiram para que eu não a chamasse e esclarecesse minhas dúvidas.


Seja lá o que estivesse magoando minha mãe, eu iria descobrir. Ver seu sofrimento me fazia sofrer também. Não era compreensível que o remorso pelo emprego perdido fosse tão decepcionante, eu a conhecia bem para perceber a guinada que ocorrera em seu comportamento, era visível, quase tangível.

Lavei os pratos e arrumei a cozinha. Pensei que devia agradar minha mãe, faria o que for possível a mim para estampar um sorriso em sua face novamente. E nem era nenhum sacrifício, odiava mesmo, era fazer comida.

Resolvi subir e persuadir mamãe a contar o que havia de errado, assim que me recordei de que ela sempre arrumava a cozinha, e, quando não fazia isso, algo ruim era iminente.


Ela estava deitada em sua cama, de costas para mim. Sentei ao seu lado e passei as mãos em seu cabelo.
Como se alguém tivesse me dado um beliscão e eu acordado de um sonho, ou limpado um pára-brisa de um carro, ou ainda, um cego que foi curado; eu percebi o quanto ela estava apática, mais velha, eu não enxergava mais o seu olhar quente, vivo. Aquilo estava me consternando, procurei as palavras certas e enfim, consegui falar:
-Mãe, o que está havendo? - Tente repelir a preocupação em minha voz, mas foi em vão. Ela me olhou nos olhos – que estavam prestes a chorar. E respondeu com a voz rouca e fraca:
-Lucy, eu acho que estou doente.
Estremeci.
-O que mãe, o que, o que a senhora tem¿ - Eu quase gritava.
-Acalme-se filha, vai passar. –Ela tentava manter-se firme e tentava me ludibriar. Queria dizer, “mãe, eu já cresci, não precisa mais mentir pra mim, não sou criança, eu vejo que tem algo de errado”. Mas por fim, fiquei em silêncio.
-Vou ao médico amanhã, não se preocupe. – Como não? meus pensamentos quase explodiam.
-Sem falta - Agora, era minha voz que falhava.
-Sem. – E fechou os olhos. Eu fiz o mesmo.
Tentei me manter consciente. Mantive meus braços envolvendo minha mãe, como se ela fosse fugir a qualquer instante e sumir, desaparecer. O silêncio era terrivelmente cruel e eu adormeci ao seu lado. Num sono profundo e sem sonhos. Estava realmente confortável, não acordaria tão cedo.

2 comentários:

  1. Tá ficando muito bom, só que eu queria que tivesse acontecido mais coisas no capitulo dois D:
    Eu morro de inveja desses relacionamentos mae-filha ._. MALSKDMFAKSMDLFM mas enfim, tá ficando bom *O*

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  2. Olha, a estoria tá ficando mt bom, envolvente.
    A personagem tem q trabalhar c sentimentos de saudades do q ficou pra tras (tipo amor deixado pra trás), a descoberta de um novo amor.A amizade c novas coleguinhas. A relação c a professora.

    E o dia-a-dia c a familia (pai, mae). E a doença da mae.

    Otimo. Estou no aguardo do rumo q os personagens irão tomar.

    Bjs,
    Catarina

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