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terça-feira, 6 de julho de 2010

Capítulo 4 - 1º de Abril ( é, eu ñ sou boa com títulos)

Era dia 1 de Abril, dia da mentira.

Tinha uma ponta de esperança que tudo o que agora eu sabia, não passasse de uma brincadeira fazendo jus ao dia. Mas não era assim, nem tudo é como a gente quer.
Olhei o despertador que se agitava sem parar e num movimento brusco o desliguei. Já haviam se passado dois meses desde a minha vinda pra Toronto. Minha mãe assim como prometera, foi ao médico um dia depois de eu ter conversado com ela e adormecido ao seu lado. Mas não para saber o que tinha, ela foi para se tratar, infelizmente.

Ela já sabia do diagnóstico. Sabia que o que carregava consigo afetaria não só a ela mais a mim também, literalmente. Sabia o motivo dos seus lindos traços estarem ausentados, exauridos ao máximo.

Meu pai também tinha conhecimento da doença, o que me surpreendeu foi o seu comportamento, ele conseguia “disfarçar” e rir comigo enquanto minha mãe sofria. Descobriria isso também. Não é uma atitude muito adequada para um pai e um marido que se preste, Cá entre nós.

Nesse meio tempo que não narrei aqui, eu e o Martin, o cara dos olhos de mel, tínhamos começado um namoro diferente daquele que eu tinha com o Rick, ele me dizia amor e eu me tornei exageradamente piegas. Tínhamos uma conexão irresistível. Eu não contaria da minha doença tão cedo. Não queria perdê-lo, não agora. Sem ele, eu realmente não conseguiria mais viver. Era egoísta, muito egoísta, mas, ele só teria que ficar comigo por alguns anos, logo, eu morreria.

Eu ainda me recordo e me afeto com aquele diálogo amargo e cheio de água salgada, que foi mais ou menos assim:

-Filha, me desculpe por ser tão inescrupulosa, por não ter te contado. É que você sabe, eu tive receio de que você não soubesse lidar com isso, é... – Ela gaguejava – eu tenho AIDS, Lucy, e você – Estava chorando muito. Seu queixo agora tremia ridiculamente. – como sabe, deve saber, você também tem... Eu já tinha, quando engravidei de você e eu Lucy, eu a passei pra você!

Eu lembro que assim que ouvi as palavras saírem de sua boca, lágrimas de desespero caíam dos meus olhos sem que eu sequer tomasse conhecimento delas. Tremia. Sentia dos pés a cabeça um baque terrível. Não odiava minha mãe por não ter contado, e sim, a mim. Era tão egoísta que pensava só em mim. Minha morte está próxima, pensava comigo. Eu estava amurada com a MINHA morte e não com a da minha mãe que era muito mais lacônica do que a minha. Depois, a ficha caiu, minha mãe morreria daqui a alguns dias.

Ela me abraçou forte. Envolveu-me em seus braços, tentando me acalmar.

A única mulher capaz de me fazer sorrir sem fazer graça, estava prestes a partir. Ela tinha uma doença terrível e me criou com todo o cuidado que eu não merecia. Sentia-me uma merda por não ter ajudado, por não ter abraçado ela antes.
Quantas vezes eu brigava com ela, quantas vezes eu a retorquia sem nenhuma piedade.

-Mãe... Quem te passou a doença? - Eu tinha tanta coisa pra perguntar, e o máximo que consegui foi essa questãozinha impertinente. Eu tinha que saber se foi papai, se papai também tinha. NÃO! Que tipo de vida é essa, onde todos estão condenados. Eu já não tinha mais domínio sobre mim.

-Não se preocupe querida, seu pai tem uma ótima saúde. – Ela agora estava corando.

-Mas mãe, como? - Agora eu percebia, eu sempre sou a última a saber das coisas. Eu não era filha de meu pai. Meu ceticismo estava me enojando. – Quem é meu pai¿ - Minha voz era muito dura – Desculpe Mary – eu nunca a chamava pelo seu nome de batismo. Toda essa história me havia tirado todos os costumes, todo o meu comportamento humano normal.

-Seu pai é o John querida. Você sabe, quer dizer, seu pai verdadeiro é um idiota. Não precisa saber.
Não precisava mesmo. Só precisava de carinho, de tempo. Um homem que só te colocou no mundo com uma doença inexoravelmente má não vai gostar de saber que tem uma filha. E muito menos eu, gostaria que ele soubesse da minha existência.



-LUCY! – Ouvia a voz de meu Pai vindo da cozinha. O tom que ela possuía era totalmente desconhecido por mim, havia um rancor nela, uma raiva e acima de qualquer outro aspecto, uma tristeza alarmante. No fundo, eu sabia do que se tratava, eu sabia o que ocorrera. Só não esperava que fosse hoje, nem nunca. A gente nunca espera por algo ruim.
O cenho abatido de meu pai era a faca que terminava de expor o meu ferimento, recém feito, e que estava somente esperando pela notícia para esfacelar-se de uma vez e sangrar, sangrar, sangrar... Arruinando minha vida.

-

Não que eu quisesse, não que fui forçada. Toda essa consternação que eu passo, aconteceu. E isso, dilacerou, rompeu todas as minhas esperanças, meus sonhos como uma planta se sentiria se ela não mais recebesse água para ter vida.
Eu estava no fundo do poço e percebia que ninguém que dizia me amar, era altruísta suficiente para me tirar de lá. Ninguém era capaz.
[...] e fui sugada para essa dor sem cura, esse ferimento aberto que sangra, que escorre...

4 comentários:

  1. Carol... você esta de parabéns... os seus textos são maravilhosos,muito lindos mesmo!

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  2. Carol,
    Este capitulo apresentou-me surpresa. É dramatico, triste. Mas, descreve uma realidade existente.
    Continue. A descrição do cenario, e do contexto está muito bom.
    E o proximo capitulo é.....
    Abs,
    Catarina

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  3. Carol, já te falei mas vou te falar de novo, história muito boa, muito bem coerente, muito bem escrito, história dramática que mostra uma realidade triste, mas que muitas pessoas conseguem viver (bem) com ela...
    beijão Carol, continue assim
    Te amo ♥

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  4. Nossa carol, estou sem palavras...
    acabei de ler esse capítulo com uma ansiedade incoercível, vc está se saido inefalavelmente bem.
    Com certeza, escrever um livro deve ser uma realização insigne, tanto para quem escreve, como para quem o lê.
    nada se compara...
    EU TE AMO Carol S2!

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